Mafalda Carvalho e Rita Jorge – Natal Sem Glúten

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A APC – Associação Portuguesa de Celíacos – tem como missão melhorar a qualidade de vida das pessoas que necessitam de uma dieta permanente sem glúten. Falámos com a presidente da associação, Mafalda Carvalho, e com a Nutricionista Rita Jorge para nos ajudarem a compreender melhor a doença e a forma de viver e lidar com ela.

1. Estima-se que a doença celíaca atinja cerca de 1% da população portuguesa. Qual é a natureza e quais os sintomas desta doença?
Rita: A doença celíaca caracteriza-se por uma sensibilidade permanente ao glúten, ou seja, quando há ingestão de glúten dá-se um processo inflamatório das vilosidades intestinais (as dobras dos intestinos que têm como função absorver os nutrientes dos alimentos). Ocorre em pessoas geneticamente susceptíveis, quer dizer, que têm o gene da doença celíaca. Depois há fatores – ambientais, imunológicos – que podem fazer despoletar as doenças nessas pessoas.

2. O glúten está essencialmente contido no trigo?
Rita: Também, mas não só. Encontra-se no endosperma do trigo, mas também do centeio e cevada e são esses três cereais que estão proibidos ao celíaco.

3. Alguns estudos apontam também para o facto de que grande parte dos celíacos não chega a ser diagnosticado. Isto deve-se a quê?
Mafalda: A percentagem de celíacos diagnosticada é consideravelmente inferior àqueles que são celíacos efetivamente. Em Portugal serão cerca 100 mil pessoas celíacas e temos diagnosticadas apenas 15.000. Mas isto acontece no mundo inteiro, não apenas em Portugal. E tem muitas causas: porque a comunidade médica não está muito alertada para o assunto – apesar de se ter evoluído muito, continua a ser essencialmente uma matéria do domínio dos gastrenterologistas e dos pediatras e está menos divulgada entre os médicos de família em Portugal; e porque por vezes a doença não é fácil de identificar. Há um conjunto de sintomas que nada têm a ver com a componente gastrointestinal e que muitas vezes confundem os médicos.

4. Qual o papel da alimentação no controlo/tratamento desta doença?
Rita: A alimentação é o único tratamento para a doença celíaca. Só excluindo o glúten da alimentação é que o doente pode recuperar. É uma doença que não tem cura mas tem tratamento. Não exige medicamentos, exames ou outro tipo de tratamentos que não a dieta. Daí o nosso papel como nutricionistas na associação ser fundamental.

5. Para além de ser presidente da APC, a Mafalda também sofre desta doença, por isso tem um conhecimento pessoal sobre como é lidar com ela. Quais são as 3 regras de ouro para quem é celíaco?
Mafalda: A grande regra de ouro é não consumir nada que tenha glúten. Cumprir escrupulosamente a dieta isenta de glúten. Não podem haver momentos de relaxamento, todos os momentos, todos os produtos que se ingerem não podem conter glúten. Uma quantidade ínfima de glúten, equivalente a um grão de açúcar, tem a capacidade para despoletar a doença. Outra regra importante é: na dúvida, não consumir. Se existirem dúvidas sobre a presença de glúten num determinado produto, ou pelos ingredientes que tem, ou pela forma como foi confecionado, esse produto não deve ser consumido.

6. A Rita enquanto nutricionista da APC procura as melhores soluções alimentares para quem tem este tipo de problemas. Pode partilhar algumas dessas respostas?
Rita: As nossas consultas aqui na APC são um pouco diferentes das consultas habituais de nutrição. Aqui fazemos um pouco o acolhimento aos recém-diagnosticados que muitas vezes nos chegam através dos médicos onde são seguidos sem saber como levar a cabo o tratamento – a dieta isenta de glúten. O nosso papel passa por informar o que é o glúten, onde está presente, que escolhas alimentares implica e quais são os substitutos. Basicamente tentamos adaptar os hábitos alimentares que a pessoa já tinha, melhorando e corrigindo, tornando essa dieta isenta de glúten.

7. Quais são os 3 melhores produtos substitutos do trigo?
Rita: Existem cereais ou pseudo-cereais, como o trigo-sarraceno, a quinoa, o millet, a farinha de milho e arroz. Todos estes, em conjunto, utilizados de forma variada, podem substituir o trigo, o centeio e a cevada. É também possível enriquecer a alimentação utilizando outro tipo de alimentos como as leguminosas, as sementes isentas de glúten, ou os frutos secos e oleaginosas. O importante mesmo é variar e fazer uma dieta equilibrada como qualquer pessoa.

Mafalda: A maior parte dos alimentos que fazem parte da roda dos alimentos e que devem ser ingeridos por toda a gente incluindo pelos celíacos, são naturalmente isentos: a carne, o peixe, a fruta, os vegetais.

8. A aveia, por exemplo, é uma boa opção?
Rita: A aveia (certificada como isenta em glúten)é óptima porque tem um grande aporte de fibras, vitaminas e minerais que são essenciais. Para os celíacos que podem comer aveia faz todo o sentido que ela faça parte da sua alimentação. A aveia não é considerada um cereal proibido porque está comprovado que não tem componente tóxica do glúten (a avenina não é tóxica). Ainda assim há uma pequena percentagem de celíacos que não podem consumir aveia. Importa referir que a sua introdução na dieta deve ser feita com acompanhamento médico e nutricional.

9. É mais caro ter uma alimentação baseada em produtos isentos de glúten, comparativamente a uma alimentação sem restrições?
Rita: O celíaco pode muito bem viver com esta doença crónica sem que isso tenha de se refletir muito no seu orçamento familiar.

Mafalda: Existe uma camada da população que não tendo nenhuma indicação para consumir sem glúten, consome por opção. Isso é bom porque faz aumentar os potenciais consumidores deste tipo de produtos, tornando-os mais baratos e acessíveis.

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10. A dieta sem glúten obriga a muitos sacrifícios? Principalmente em ocasiões festivas como é, por exemplo, o Natal que se aproxima? De que formas é possível ter um Natal isento de glúten e mais saudável, sem que isso afete o espírito da época para quem sofre da doença?
Mafalda: Não há sacrifícios nenhuns. Pode-se fazer tudo em casa. O meu bolo-rei isento de glúten, por exemplo, fica tão bonito e saboroso quanto os bolos-rei que se vendem nas lojas. Seguramente até fica melhor recheado, porque sendo feito em casa, podemos escolher os frutos secos que mais gostamos e a massa fica fofa. A doença celíaca não tem de ser vista como um sacrifício mas como uma oportunidade. Temos muitas pessoas que nos dizem: “depois de ser celíaca a minha alimentação tornou-se melhor, mais equilibrada e saudável”.
Se calhar a grande dica que podemos dar às pessoas é para não se concentrarem no problema mas sim na solução. A doença celíaca pode ser vista como uma oportunidade para aprender a cozinhar alimentos que de outra forma talvez nunca aprenderíamos, para experimentar, para testar novos produtos…

11. Esta é uma doença que precisa de ser controlada com um rigor diário. Que pequenas decisões alimentares do dia a dia podem ser tomadas para amenizar as restrições, sem se perder o prazer de comer?
Mafalda: Isto é uma maratona, não é uma corrida de 100 metros. Numa fase aguda de outra doença, por exemplo uma gastroenterite, é possível fazer uma dieta a cozidos e grelhados durante uma semana e, em princípio, o problema fica resolvido. A doença celíaca é uma maratona porque implica lidar todos os dias com estímulos aos quais não se pode reagir. Mas existem já alternativas certificadas (pastelarias, restaurantes, hotéis com menus sem glúten) para dar resposta a isso.

12. Sendo uma doença autoimune, o desafio passa pela disciplina e pelo controle. Como é possível colocar isso em prática?
Mafalda: Como em tudo na vida o “querer é poder”. Depois há um grande fator que ajuda, que é o facto da pessoa sentir-se melhor à medida que vai cumprindo a dieta. As pessoas que tinham mau estar gastrointestinal deixam de o ter, quem tinha anemia e cansaço decorrente deixa de ter.
Ao início é confuso e pode criar reação de espanto e revolta, dúvidas que são todas normais. O importante é a pessoa informar-se e formar-se.Há uma componente informativa e formativa (e a APC disponibiliza todas as ferramentas para que isso aconteça). E nesse momento a doença deixa de ser vista como um problema.

13. Entre chefes, autores de livros de receitas e outros agentes começa a ver-se alguma preocupação em dar resposta às limitações dos doentes celíacos. Que tipo de iniciativas ou canais de informação é possível encontrar?
Mafalda: Na APC temos atividades muito variadas e todas elas úteis para as pessoas. Sempre que alguém é confrontado com o diagnóstico, a primeira coisa que deve fazer é contactar a associação.Temos connosco as duas nutricionistas mais habilitadas a lidar com a questão e temos informação de qualidade, fidedigna, rigorosa e atualizada. O nosso site, a nossa revista e as nossas newsletters vão dando conta dos produtos que vão sendo lançados.
Quem se tornar sócio da APC tem também descontos em lojas e parceiros que ajudam a atenuar os custos. O valor da nossa cota é relativamente baixo comparativamente a outras associações e esses descontos cobrem o custo anual da cota. Damos ainda a oportunidade de participar em workshops de culinária, encontros nacionais onde levamos médicos e outros palestrantes. E temos o campo de férias para os miúdos entre muitas outras atividades…

14. Como caracteriza o papel da Auchan nas alternativas alimentares e informação disponível que oferece a estes doentes?
Mafalda: O seu papel é muito importante desde logo porque sendo um hipermercado generalista tem uma oferta grande de produtos com muita variedade. Quem procura estes produtos não precisa de se deslocar a diferentes sítios porque na Auchan tem muito por onde escolher.
Além disso, tem a vantagem de ter uma grande quantidade de produtos isentos de glúten de marca própria (como por exemplo a farinha para o pão), a preços mais acessíveis em relação a outras marcas do mercado.

Rita: Também o facto de ter sido pioneiro neste domínio. Foi a Auchan que fez o lançamento de produtos sem glúten nas grandes superfícies em Portugal. E hoje continuam a apostar. Existe todo um cuidado na seleção de produtos antes do lançamento, no sentido de se adequarem ao que o cliente procura mas também nos aspetos nutricionais.

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Sobre este tema, veja também o artigo Celíaco mas saudável.