Insetos à mesa, porque não?!

Já pode encontrar nas lojas Auchan, produtos alimentares com insetos na sua composição. Sim, leu bem. Insetos na alimentação humana. Parece uma realidade tão distante, no entanto, poderá passar a ser uma situação bastante comum.

Antes de mais, ao pesquisar em ferramentas de evidência científica, sobre entomofagia (uso de insetos como fonte de alimento) na alimentação humana, percebe-se que o interesse pelo tema tem vindo a aumentar desde 2015, sendo mesmo assim, alvo de poucos estudos.

No mundo sempre existiriam disparidades a diversos níveis e os hábitos alimentares não são exceção. Atualmente, mais de dois mil milhões de pessoas têm o hábito de consumir insetos, nomeadamente em países da Ásia, África, América do Sul e América Central.

Contrariamente, na maioria dos países desenvolvidos, como em Portugal, esta opção ainda está longe de surgir na mente dos consumidores quando se pensa em comer. Mas, pense bem, há alguns anos nem se falava de fast food e sushi. E, atualmente, elas já são uma realidade. É normal que surja alguma admiração mas, por que não experimentar?

Como está a ser executado o controlo desses alimentos ?

O Regulamento (EU) 2015/2283 determina que novos alimentos com insetos requerem uma autorização de comercialização da Comissão Europeia. Inicialmente, as espécies de insetos são avaliadas pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) quanto aos riscos existentes, desde a produção ao consumo, e autorizadas pela Comissão Europeia para a sua comercialização.

A Direção Geral de Alimentação e Veterinária regulamenta a comercialização de novos alimentos com insetos em Portugal, garantindo a ausência de riscos de segurança para a saúde humana, atualmente, em sete espécies de insetos não vivos (inteiros ou moídos), sendo o mais comum o Tenebrio molitor (larva da farinha).

Quais são os benefícios de consumir insetos ?

Esta nova categoria alimentar apresenta vários benefícios:

Fomenta a redução do impacto ambiental e aumenta a segurança alimentar no Mundo

A mudança dos hábitos alimentares e o aumento considerável do consumo de produtos de origem animal, tem vindo a acompanhar o exponencial crescimento populacional, que potenciou o desenvolvimento massivo da agricultura, pecuária e aquacultura. No entanto, para a produção desses animais, são gastos recursos (água, mineralização dos solos, grãos, etc.) em grandes quantidades, que têm vindo a produzir efeitos colaterais negativos, como a emissão de gases de efeito de estufa, poluição dos solos e das águas, desflorestação para pastagens ou agricultura, entre outros.

Além disso, a produção exacerbada contribui para as discrepâncias na aquisição de alimento a nível mundial e influencia a segurança alimentar, isto é, o acesso físico, social e económico permanente a alimentos seguros, nutritivos e em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades nutricionais, principalmente em países desfavorecidos.

Estima-se que em 2050, a população mundial será cerca de 9 biliões de pessoas, não sendo exequível manter os hábitos de consumo atuais. Portanto, será necessário encontrar fontes alternativas para o futuro, adotando uma alimentação com maior riqueza em fontes vegetais e complementando com fontes de origem animal, mais sustentáveis e com menor impacto ambiental, como é o caso dos insetos:

Ciclo de vida curto e de rápida reprodução

A aquisição de insetos poderá ser através da natureza, uma vez que são facilmente encontrados em florestas quentes e húmidas, demonstrando-se o método mais económico. No entanto, poderá conduzir a extinção de espécies e influenciar a flora. O outro método de produção em massa, possibilita um desenvolvimento otimizado, já que as condições são manipuladas para um rápido crescimento e proliferação, além de promover o aumento de postos de trabalho. Contudo, poderá ser mais dispendioso e acarretar recursos extra se as condições ambientais não forem favoráveis.

Menos emissões de gases com efeito de estufa

A produção de insetos permite reduzir a quantidade de emissões de gases de efeito de estufa em cerca de 98%, em comparação com a produção de carne de vaca.

Contribui para a redução do desperdício alimentar

O desperdício alimentar advém, em parte, das componentes não edíveis dos alimentos de origem animal (ossos, cartilagens…). Somente 40% da vaca, 55% da galinha e 55% do porco são consumidos. Relativamente aos insetos, as perdas alimentares não serão tão significativas, já que poderá ser consumido 85% do grilo e 100% do Tenebrio molitor.

Para produzir 1kg de carne de porco são necessários 5kg de alimento, enquanto que para produzir 1kg de insetos são necessários somente 2kg de alimento. Além de que se poderá reaproveitar o lixo orgânico (frutas e verduras) na alimentação dos insetos.

Reduzidos recursos hídricos na sua produção

Para produzir 100g de Tenebrio molitor serão necessários 1244L de água, enquanto que para 100g de vaca são precisos 2341L e 100g de porco 1265L.

Se analisarmos as quantidades, num prato típido português dificilmente irá encontrar um bife de vaca com menos de 200g, logo serão necessários 4682L para a sua produção.

Baixo investimento na produção

Para a produção de insetos não é necessário despender exacerbadamente recursos, nem equipamentos dispendiosos.

Contribui para uma alimentação saudável

O valor nutricional dos insetos depende do estado de desenvolvimento da espécie, do habitat e da alimentação.

Essencialmente possuem alto teor de proteína de alto valor biológico (possuem todos os aminoácidos essenciais), como verificamos com o Tenebrio molitor; são fonte de fibra e minerais como o ferro, o zinco e o cálcio. Contêm alto teor de lípidos, nomeadamente ácidos gordos essenciais (ómega 3 e 6), com valores semelhantes ao salmão. No entanto, apresentam valores elevados de ácidos gordos saturados em comparação com os polinsaturados. Portanto, deverá consumir com equilíbrio e variar com outras fontes proteicas, nomeadamente de origem vegetal.
Apresenta uma densidade energética elevada, isto é, em 100g de alimento contém 510 kcal, mais do dobro da energia, se compararmos com outros alimentos de origem animal, visto que são constituídos essencialmente por proteína e gordura, resultam num alimento saciante e energético.

Nesse sentido, os insetos poderão ser uma alternativa viável, principalmente em países subdesenvolvidos, que têm maiores carências nutricionais e energéticas. Podem também ser introduzidos na alimentação dos países ocidentais, nomeadamente, em pessoas que realizam menor número de refeições diárias e em atletas.

Existe algum risco para a saúde?

A EFSA identificou algumas espécies de insetos que podem causar alergias, principalmente para quem sofre de alergia ao marisco, dada à presença da proteína tropomiosina. Dessa forma, é de reforçar a importância da leitura dos rótulos e a segurança do consumo de insetos, sempre que devidamente comercializados.

Experimente ter insetos à mesa, através de massas, farinhas e snacks. Agora é possível!

Daniela Cação
Nutricionista Auchan
Membro da Ordem dos Nutricionistas Nº 4295N