A fibra que ajuda a prevenir o AVC

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As doenças cardiovasculares (DCV) são um grupo de doenças que afetam o sistema circulatório e os vasos sanguíneos (artérias, veias e vasos capilares). A maioria das DCV são provocadas por aterosclerose, ou seja, pelo depósito de placas de gordura ou cálcio na parede interna dos vasos sanguíneos que irrigam o coração ou o cérebro, dificultando a circulação sanguínea nos órgãos, podendo mesmo impedi-la. Quando este bloqueio do fluxo de sangue se sucede nas artérias do cérebro, ocorre ausência de oxigénio e nutrientes, resultando na lesão das células cerebrais (morte ou perda de função) originando, assim, um acidente vascular cerebral (AVC). Esta doença neurológica é uma das principais causas de morte e incapacidade a longo prazo em todo o mundo1,2,3.

Sabia que o AVC é a primeira causa de morte em Portugal?

Dados revelam que Portugal é, na Europa Ocidental, o país com maior taxa de mortalidade por AVC, sobretudo na população com idade inferior a 70 anos4,5,6. Esta situação pode ser revertida, atuando na prevenção de DCV, através do controlo dos fatores de risco modificáveis. Destes fazem parte os fatores de risco comportamentais, sendo os de maior relevância, a alimentação, o sedentarismo, os hábitos tabágicos e o consumo excessivo de álcool. Estes predispõem não só a um aumento do colesterol (hipercolesterolemia), uma das principais causas do AVC, mas também a um aumento do açúcar no sangue (hiperglicemia), pressão arterial (hipertensão arterial), excesso de peso e obesidade, entre outros1,6.

Mas o AVC e outras DCV podem ser prevenidas!

À semelhança de outras DCV, o AVC pode ser prevenido através de acompanhamento de profissionais de saúde especializados na área e da adoção de um estilo de vida saudável, nomeadamente, na alteração de hábitos alimentares, destacando-se o papel da fibra1,6. A fibra dietética inclui uma ampla gama de compostos de origem vegetal que, quando ingeridos, não são totalmente digeridos no intestino humano. Esta pode ser classificada em diferentes categorias, consoante a sua solubilidade, isto é, a sua capacidade de se dissolver em água, em:

  • fibras insolúveis, que incluem celulose, hemiceluloses e lignina
  • fibras solúveis, que incluem pectinas, β-glucanos e hidrocolóides7,8

A fibra apresenta efeitos benéficos para a saúde, nomeadamente no controlo da diabetes, através da redução dos valores da glicemia, melhoria do trânsito intestinal e aumento da saciedade, importante no combate à obesidade. A fibra apresenta ainda um efeito hipocolesterolémico, uma vez que o seu consumo induz uma redução dos valores de colesterol sanguíneo, que se revela como tendo um efeito preventivo no desenvolvimento de DCV, como o AVC, impedindo a obstrução das artérias7,8. No intestino delgado, os β-glucanos (fibra solúvel) aumentam a viscosidade do meio, induzindo uma absorção mais lenta da glicose e, consequentemente, maior sensibilidade à insulina, e reduzem a reabsorção dos ácidos biliares que, por sua vez, diminuem os níveis de colesterol circulante8.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, é recomendada uma ingestão diária de fibra de, pelo menos, 25g de fibra/dia, de modo a garantir a sua ação benéfica no organismo. Os dados mais recentes do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física revelam que a população portuguesa faz uma ingestão de fibra inferior ao valor recomendado7,8.

Como garantir o consumo diário de 25g de fibra?

Na Roda dos Alimentos, o grupo que mais contribui para a ingestão diária de fibra é o dos “Cereais, derivados e tubérculos” (45,6%), seguido do grupo das “Frutas, hortícolas e leguminosas” (32,6%)7,8,9. Como fontes de fibras destacam-se os cereais, leguminosas, frutas e vegetais, sendo os alimentos mais ricos em fibras solúveis a aveia, cevada, leguminosas, maçãs e citrinos; já os alimentos mais ricos em fibras insolúveis são os vegetais de folha verde, cereais integrais e farelo de trigo7,8.

Em suma, para prevenção de DCV, é imperativo investir na sua prevenção adotando estilos de vida saudáveis, complementando uma alimentação saudável com a prática de exercício físico, e garantir a vigilância médica regular, de forma a potencializar a longevidade e qualidade de vida.

Referências bibliográficas:
  1. Caprio, F. Z., & Sorond, F. A. (2019). Cerebrovascular Disease: Primary and Secondary Stroke Prevention. The Medical clinics of North America, 103(2), 295–308
  2. Hachinski V. Stroke and Potentially Preventable Dementias Proclamation: Updated World Stroke Day Proclamation. Stroke- J Am Hear Assoc. 2015;46(11):3039–40
  3. World Health Organization. Cardiovascular diseases (CVDs). 2021. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cardiovascular-diseases-(cvds)
  4. Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Atlas da Cardiologia da Sociedade Europeia de Cardiologia. 2019
  5. Instituto Nacional de Estatística. Causas de Morte [Internet]. 2021
  6. Evans C. (2020). Dietary fibre and cardiovascular health: a review of current evidence and policy. The Proceedings of the Nutrition Society, 79(1), 61–67
  7. DGS. Nutriente- Fibra
  8. Lopes C, Torres D, Oliveira A, Severo M, Alarcão V, Guiomar S, et al. IAN-AF: Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física – Relatório de resultados de 2017. Universidade do Porto. 2015. 291 p

Soraia Vicente, Estagiária de Dietética e Nutrição da ESTeSL
Informação validada pela Equipa de Nutricionistas Auchan