Afinal os enlatados fazem bem ou mal? São seguros? São menos nutritivos do que os alimentos frescos? Estas são certamente as perguntas que já ouviu falar e que provavelmente até já questionou. Apesar dos mitos, uma ideia é clara, as conservas podem fazer parte de uma alimentação saudável, e vamos saber porquê.
O que são?
Primeiro que tudo, entende-se por conserva o processo que consiste em acondicionar produtos em recipientes hermeticamente fechados e submetê-los a um tratamento térmico suficiente para destruir ou tornar inativos todos os microrganismos suscetíveis de proliferação, qualquer que seja a temperatura a que o produto se destine a ser armazenado1.
Este processo de conservação é utilizado principalmente em alimentos como as carnes e os peixes, leguminosas, legumes e frutas. O processo de enlatamento pode variar consoante o tipo de alimento, e por norma inclui três etapas principais:
- Processamento – a matéria-prima é descascada, fatiada, picada, desossada ou cozida
- Selagem – após o processamento o alimento é selado em latas hermeticamente fechadas
- Aquecimento – o produto final é aquecido a altas temperaturas de forma a eliminar os microrganismos potencialmente patogénicos
Em segundo lugar, a ideia de que os alimentos enlatados são considerados menos nutritivos do que os frescos não é verdade, uma vez que a evidência não comprova esse facto2. O que os estudos demonstram é que os alimentos ricos em certos nutrientes, mesmo depois de serem enlatados, mantêm a composição desses mesmos nutrientes3.
No que se refere às proteínas, hidratos de carbono e lípidos, estes não são afetados durante o enlatamento, bem como a maioria dos minerais e vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K). Por outro lado, já as vitaminas hidrossolúveis como a vitamina C e as do complexo B podem ser destruídas durante o calor, uma vez que são vitaminas bastante sensíveis ao mesmo.
Em relação às conservas de carne e peixe, qual poderá ser o problema?
No caso das conservas de carne e de peixe, estas constituem boas fontes de proteínas de alto valor biológico (apresentam todos os aminoácidos essenciais), fornecedores de vitaminas e minerais e no caso específico das conservas de pescado, são ainda ótimas fontes de ácidos gordos ómega-3, contribuindo beneficamente para a saúde cardiovascular.
Mas, na verdade, para melhorar o sabor, a textura e a aparência deste tipo de alimentos, ou por apresentar vantagens tecnológicas nestes produtos, as conservas de carne e de peixe podem sofrer alguma adição de sal e/ou açúcar e gordura, podendo também ser adicionados alguns conservantes naturais ou químicos. Nesses casos, o consumo deve ser evitado em populações que tenham dislipidémia, hipertensão ou sofram algum tipo de doença cardiovascular.
É de notar que este tipo de produtos não é necessariamente menos saudável, a não ser que represente uma fonte excessiva de sal, açúcar e gorduras (especialmente gorduras saturadas e trans). Ao longo dos anos, a indústria das conservas evoluiu de acordo com os interesses e procura do consumidor, existindo atualmente uma grande variedade de produtos enlatados. De facto, já existem no mercado por exemplo, conservas de pescado com teores reduzidos de sal ou até mesmo sem sal adicionado, como por exemplo algumas conservas de atum ou de sardinha4.
Isto para referir que, em qualquer situação, antes de consumir, a leitura atenta da lista de ingredientes e dos rótulos alimentares torna-se essencial, devendo dar-se sempre preferência a enlatados em água ou ao natural, com baixo teor de sal e açúcares e sem gordura adicionada.
A questão das conservas alimentares surgiu pela sua praticidade e conveniência, uma vez que ao ritmo agitado que vivemos hoje em dia, o tempo para confecionar e preparar os alimentos torna-se escasso, surgindo então as novas soluções como este tipo de produtos, de maneira a contornar o problema e também garantir uma maior variedade de alimentos ao longo do ano (ou quando os frescos não se encontram disponíveis). Além disso, os enlatados podem ser armazenados com segurança durante alguns anos e tendem a ter um preço mais acessível do que os produtos frescos2,5.
Cuidados no armazenamento e conservação
Tal como referido anteriormente, os enlatados são produtos que se conservam facilmente durante um período longo e à temperatura ambiente. No entanto, existem alguns aspetos a ter em conta como, por exemplo, devem ser sempre conservados em locais secos, e antes de os utilizar deverá ter em atenção o prazo de validade e a integridade das embalagens. Se verificar que as latas estão danificadas ou oxidadas, as mesmas não deverão ser utilizadas. Depois de abertas, e caso não o utilize de imediato, deverá transferir o conteúdo para um recipiente de vidro ou de outro material próprio para armazenar alimentos e conservar no frigorífico por um período máximo de 3 dias4.
Resumindo, a mensagem-chave é: as conservas de carne e peixe são uma boa opção, sem dúvida, podendo e devendo integrar na nossa alimentação diária, especialmente quando a disponibilidade dos alimentos frescos está mais condicionada. Porém, é imperativo ler sempre a lista de ingredientes e o rótulo alimentar do produto que vai adquirir, optando por aqueles nutricionalmente mais densos e evitando os que têm adição excessiva de sal, açúcar e gorduras. Se não tiver outra opção, pode optar por escorrer o líquido da lata/conserva de forma a diminuir o teor destes aditivos.
Nunca deixe de privilegiar os produtos frescos!
Referências bibliográficas:
- Diário da República. Decreto-Lei no 375/98
- Comerford KB. Frequent canned food use is positively associated with nutrient-dense food group consumption and higher nutrient intakes in US children and adults. Nutrients. 2015;7(7):5586–600
- Cameron, E.J. et al. Nutrient Retention During Canned Food production. Am J Public Health. 1949;39:756–63
- EIPAS. Receitas com Lata- Alimentação Saudável à Base de Conservas de Pescado “Made in Portugal.” 2015
- Kapica C, Weiss W. Canned Fruits, Vegetables, Beans and Fish Provide Nutrients at a Lower Cost Compared to Fresh, Frozen or Dried. J Nutr Food Sci. 2012;02(04):2–5
Catarina Li
Nutricionista Estagiária Auchan
Membro da Ordem dos Nutricionistas nº3257NE