A cebola (Allium cepa L.) está entre as mais antigas plantas cultivadas. Assim, tem vindo a ser utilizada, tanto como alimento, como para fins medicinais.
A primeira referência à cebola surge no Codex Ebers, um papiro médico egípcio, datado de 1550 a.C..
Este relata várias fórmulas terapêuticas, à base de alho e cebola. Estes remédios destinavam-se a uma variedade de doenças como:
- problemas cardíacos
- dores de cabeça
- mordidas
- vermes
- tumores
Os Egípcios acreditavam nos seus efeitos a nível da resistência1, sendo oferecida (a par do alho) aos atletas olímpicos, de forma a melhorar o seu desempenho2. Era, também, oferecida aos asmáticos e àqueles que sofriam de queixas bronco-pulmonares1.
A cebola é encontrada um pouco por todo o globo devido à sua enorme versatilidade.
É usada como ingrediente, numa grande variedade de pratos, e aceite pela maioria das culturas. É constituída maioritariamente por água, que representa de 80%–95% do seu peso2. Apresenta um muito baixo teor de lípidos e uma quantidade considerável de fibra, potássio, vitamina B6, ácido fólico3 e vitamina C.
Diversos estudos têm vindo a atribuir um leque de benefícios à cebola.
Estes podem ser classificados em duas categorias principais:
- Prevenção de doenças cardiovasculares
Pela inibição da síntese de colesterol (e consequente diminuição da hipercolesterolémia), ação antiagregante plaquetária e efeitos vasodilatadores4 - Prevenção do cancro
Inclui os efeitos no metabolismo de carcinogéneos, como a síntese aumentada de glutationa celular, que induz a paragem do ciclo celular e a apoptose, ou seja, a morte das células cancerígenas. E ainda a prevenção da infecção por Helicobacter pylori, associada ao surgimento de úlcera e dos cancros gástrico e colorrectal4
Foram ainda descritas propriedades antioxidantes1, hipoglicemiantes (de redução do açúcar no sangue)3, antiasmáticas2,3, antifúngicas e antibacterianas2.
O extrato de cebola exibiu uma atividade antibiótica significativa, podendo vir a ser um aliado aos antibióticos modernos3. A cebola é fonte de vários fitonutrientes. Estes são importantes elementos da Dieta Mediterrânica, que lhe atribuem estes benefícios e propriedades farmacológicas.
Alguns destes compostos são os tiossulfinatos, compostos voláteis de enxofre, que também são responsáveis pela pungência da cebola com sabor e aroma picante característicos1. A onionina A1, componente maioritário dos tiossulfinatos, demonstrou-se um agente eficaz na ativação do sistema imune antitumoral. Assim, pode ser uma terapia adjuvante eficaz para pacientes com osteossarcoma, cancro do ovário e outros tumores malignos. Inclusive pode, no futuro, abrir as portas a mais investigações neste sentido4.
No entanto, na cebola fresca, estes compostos são instáveis e originam produtos de transformação.
Para além destes, as cebolas apresentam ainda compostos como as sapogeninas, saponinas e flavonoides, não pungentes e mais estáveis ao cozimento. Estudos demonstraram efeitos antifúngicos, antitumorais, na coagulabilidade sanguínea, antiespasmódicos e redutores de colesterol de saponinas isoladas da cebola e alho1.
A cebola é uma das fontes alimentares mais rica em flavonoides, conhecidos antioxidantes.
Assim, podem ser encontrados dois subgrupos:
- Antocianinas
Conferem uma cor vermelha/arroxeada, a algumas variedades - Flavonóis
Como a quercetina e seus derivados, que atribuem tonalidades amarelas/ acastanhadas3
Os últimos são os pigmentos predominantes com, pelo menos, 25 flavonóis diferentes caracterizados. Sendo os derivados de quercetina os mais representados3,5. Em particular, a quercetina demonstrou propriedades anti-VIH e proteção ao nível das doenças cardiovasculares1.
É, também, conhecida pela sua atividade antioxidante na eliminação de radicais livres, propriedades antialérgicas, antiinflamatórias e imunomoduladoras. Com ação positiva no tratamento de asma e alergias6.
A maior perda de flavonóides ocorre quando as cebolas são descascadas.
A confeção parece ter pouco efeito sobre o conteúdo de flavonóides pelo que, a utilização de cebolas em pratos prontos na alimentação caseira, pode ser uma boa fonte alimentar destes compostos2.
A cebola é ainda fonte de frutanos (frutooligossacarídeos (FOS)), com efeito positivo geral para a saúde. Nomeadamente ao nível do colon, uma vez que estimulam o desenvolvimento de microrganismos específicos (Bifidobacteria e Lactobacilli). Estudos demostraram que a administração de FOS diminuiu significativamente a glicémia em jejum e o colesterol total. Aumentando a absorção intestinal e a densidade óssea.
Para a obtenção de benefícios é recomendada a ingestão de 40 a 100g de cebola na dieta diária3.
Já lhe mostramos como cortar cebola sem chorar. Veja também a nossa sugestão de hambúrguer em cebola e rúcula com abóbora assada e quinoa.
Referências bibliográficas:
-
Lanzotti V. The analysis of onion and garlic. J Chromatogr A. 2006 Apr 21;1112(1-2):3-22
-
Griffiths G, Trueman L, Crowther T, Thomas B, Smith B. (2002). Onions-a global benefit to health. Phytother Res. 2002 Nov;16(7):603-15
-
Suleria HAR, Butt MS, Anjum FM, Saeed F, Khalid N. Onion: Nature Protection Against Physiological Threats. Crit Rev Food Sci Nutr. 2015;55(1):50-66
-
Nohara T, Fujiwara Y, El-Aasr M, Ikeda T, Ono M, Nakano D et al. Antitumor Allium Sulfides. Chem Pharm Bull (Tokyo). 2017;65(3):209-217
- Pérez-Gregorio M R, Regueiro J, Simal-Gándara J, Rodrigues AS, Almeida DPF. Increasing the Added-Value of Onions as a Source of Antioxidant Flavonoids: A Critical Review. Crit Rev Food Sci Nutr. 2014;54(8):1050-62
- Mlcek J, Jurikova T, Skrovankova S, Sochor J. Quercetin and Its Anti-Allergic Immune Response. Molecules. 2016 May 12;21(5)
Dalila Abreu
Nutricionista Estagiária Auchan
Estagiário da Ordem dos Nutricionistas nº 2691 NE