Apesar de altamente atrativas para quem deseja perder peso de forma rápida, as dietas restritivas são consideradas ineficazes e prejudiciais a longo prazo. Alguns problemas subsequentes que podem ser destacados são insatisfação corporal, baixa autoestima, o desenvolvimento de transtornos alimentares e ainda outras complicações como doença cardiovascular, enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral ou diabetes1.
A Alimentação Intuitiva é uma alternativa para o controlo de peso focada no desenvolvimento de um relacionamento saudável com a alimentação, desfocando o objetivo primário da perda de peso. Deste modo, alimentar-se de forma intuitiva significa comer em resposta à fome física e aos sinais de saciedade, e não por razões emocionais, ambientais ou sociais. Este tipo de alimentação tem sido associado à melhoria da saúde física e psicológica e estudado em associação com várias dimensões da imagem corporal1.
Os programas alimentares intuitivos têm o seu foco direcionado para a promoção de estilos de vida saudáveis, em detrimento da perda de peso2.
Assim, alguns dos objetivos da Alimentação Intuitiva são:
- Reduzir as preocupações excessivas com o peso
- Melhorar a aceitação e perceção da imagem corporal
- Aumentar a autoperceção de beleza e atratividade sexual3
E os seus Princípios são:
- A perceção interna de fome e saciedade que orientam a ingestão alimentar
- Inexistência de limites previamente estabelecidos para a ingestão alimentar
- Alimentar-se para satisfazer as necessidades físicas do corpo, sem razões emocionais
- Alimentar-se tendo como fim melhorar o funcionamento do corpo3
Mindful Eating
A prática de Mindful Eating está intimamente relacionada com a Alimentação Intuitiva, apontando ambas para a perceção das sensações de fome e saciedade mediante perceções e monitorizações internas. Alguns autores referem que a única diferença entre os dois conceitos é que o mindful eating incorpora também a vertente da meditação4.
A Alimentação Intuitiva tem vários benefícios:
A aceitação corporal e uma relação saudável com a alimentação são elementos chave para a promoção de hábitos alimentares saudáveis e para o bem estar físico e psicológico. Neste sentido, a alimentação intuitiva parece ser um modelo especialmente eficaz em populações que sofrem de stress psicológico e baixa autoestima relacionadas com a alimentação e o peso corporal, e com comportamentos alimentares transtornados.
Diversos estudos referem que a alimentação intuitiva está associada a:
- Reduções do peso corporal
- Aumento da autoestima
- Redução do stress psicológico
- Aumento da aceitação da imagem corporal1
Será eficaz em toda a população?
Um estudo de 2020 do Journal of The Academy of Nutrition And Dietetics refere que tanto a Alimentação Intuitiva como o Mindful Eating são abordagens que podem não ser úteis para indivíduos com uma condição de saúde que altera o estado “natural” dos sinais de fome e saciedade.
Por exemplo, o excesso de peso pode alterar a resposta aos sinais naturais de fome e saciedade, o que sugere que possivelmente a alimentação intuitiva não seja útil para o tratamento do excesso de peso. Em adição, existem outras condições clínicas que podem alterar a regulação do apetite devido a desequilíbrios hormonais.
A título de exemplo, no hipertiroidismo, ocorre a produção elevada de hormonas tiroideias o faz aumentar a estimulação do hipotálamo, resultando no aumento da sensação de fome, ocorrendo o mecanismo oposto no hipotiroidismo.
Para além de condições de saúde, fatores que se prendem com hábitos de vida (como a falta de sono) podem alterar os marcadores fisiológicos de fome e saciedade. Quando a regulação homeostática do apetite se encontra alterada por qualquer que seja a condição, não devem ser consideradas as intervenções de Alimentação Intuitiva nem de Mindful Eating. Os resultados de vários estudos parecem refletir o impacto positivo destas estratégias a nível da depressão, autoestima e bem-estar emocional, no entanto não reportam, de forma consistente e evidente, alterações na ingestão alimentar5.
Considerações finais
A Alimentação Intuitiva parece ser um modelo de gestão do peso com potencial para melhorar a relação das pessoas com a alimentação, ajudando a compreender os mecanismos internos de fome e saciedade e a melhorar a aceitação corporal2.
Por outro lado, e considerando a evidência atual, esta poderá não ser eficaz para promover hábitos alimentares mais saudáveis ou perda de peso em populações com excesso de peso ou outras condições que possam afetar a perceção interna das sensações de fome e saciedade5.
Referências bibliográficas:
- Spoor KD, Madanat H. Relationship between body image discrepancy and intuitive eating. Int Q Community Health Educ. 2016;36(3):189–97
- Bacon L, Stern JS, Van Loan MD, Keim NL. Size acceptance and intuitive eating improve health for obese, female chronic dieters. J Am Diet Assoc [Internet]. 2005;105(6):929–36
- Bruce LJ, Ricciardelli LA. A systematic review of the psychosocial correlates of intuitive eating among adult women. Appetite [Internet]. 2016;96:454–72
- Fuentes Artiles R, Staub K, Aldakak L, Eppenberger P, Rühli F, Bender N. Mindful eating and common diet programs lower body weight similarly: Systematic review and meta-analysis. Obes Rev. 2019;20(11):1619–27
- Grider HS, Douglas SM, Raynor HA. The Influence of Mindful Eating and/or Intuitive Eating Approaches on Dietary Intake: A Systematic Review. J Acad Nutr Diet [Internet]. 2020
Maria Inês Silva – Estagiária de Dietética e Nutrição da ESTeSL
Informação Validada pela Equipa de Nutricionistas Auchan