Um dos desejos mais pedidos no início do ano é a motivação para perder peso e também para a prática de exercício. Para isso há quem empreenda autênticas “batalhas” contra o peso e o sedentarismo, iniciando mudanças demasiado rápidas, física e psicologicamente extenuantes. Resultado: este comportamento mais tarde ou mais cedo cessa. Mudança exige tempo.
De facto parece não haver dúvidas: o hábito de determinado comportamento surge da sua repetição. A repetição, por sua vez, exige tempo. Ou seja, não é por fazer 2 semanas a dieta X que esta se torna um hábito. A mudança de comportamento alimentar exige determinação, consciência, perseverança, persistência, motivação, resiliência e uma certa dose de “elasticidade mental”. E porquê?? Porque qualquer processo de alteração comportamental (que exige tempo) tem “altos e baixos”. Isto é, não vai sempre correr bem, nem vai sempre correr mal. O importante é que a mudança vá acontecendo, quase de uma forma imperceptível, que é o resultado do tempo.
Se traçarmos um gráfico sobre a evolução de um processo de mudança de hábitos alimentares, refletidos por exemplo no “peso” ou no número de vezes em que “comeu vegetais e frutas” vamos sempre encontrar um gráfico deste género (ao longo do tempo):
Esta imagem demonstra a mudança do “peso ao longo de 9 meses”. Podemos observar que não é de todo um processo linear! Aliás, nota-se até períodos de manutenção do peso (fevereiro a março) e períodos de aumento do peso (julho a agosto). Podemos ainda verificar que a maior perda de peso se deu no primeiro mês. E porquê? Este é um assunto que vale a pena analisar. Temos dois fatores a considerar num processo de mudança de hábitos alimentares: o fator físico e o fator psicológico.
O “fator físico”
De facto, no início e tendo em conta também a “quantidade” de peso a perder, os tratamentos nutricionais têm um efeito “choque” no nosso organismo. Ou seja, as mudanças da “dieta alimentar” são muito mais “sentidas” pelo metabolismo, que reage de uma forma mais intensa e visível. Ao longo do tempo, dá-se o efeito “habituação”, que significa que já não obtemos os mesmos efeitos metabólicos com determinada ação dietética.
Observe como após o primeiro mês, em que a perda de peso se aproximou dos 15kg, se seguiu um efeito “estagnação”. Isto não quer dizer que a pessoa tenha abandonado o plano alimentar. Pode dever-se simplesmente a um efeito de adaptação do metabolismo, que após uma intensa fase catabólica de gasto de gordura teve necessidade de se “reorganizar”.
Sempre que o emagrecimento é demasiado rápido, é muito provável que o nosso corpo interprete esse processo como uma “doença” e de seguida faça de tudo para “recuperar”. Isso mesmo! Todo o seu sacrifício irá rapidamente voltar, pois não deu ao seu corpo “tempo de adaptação”. Por isso já sabe, sempre que o seu peso estagnar, mesmo que “esteja a cumprir o seu plano”, não desmotive, pois isso só significa que o seu corpo se está a adaptar de forma a que no futuro não volte a ganhar peso. Seja paciente com o seu metabolismo.
O “fator psicológico”
O sucesso da mudança de hábitos alimentares é tanto físico, como psicológico. Se não for desta forma jamais haverá uma manutenção dos hábitos a longo prazo.
Se for demasiado rígido e restritivo consigo próprio, entrará num processo de saturação e desistência. A manutenção do comportamento baseia-se num equilíbrio do mesmo, ou seja, “nem 8 nem 80”. Nem deve comer tudo o que tem disponível, nem deve continuar a restringir-se como no início. Só assim obterá um equilíbrio a nível mental, que lhe permitirá manter um comportamento alimentar saudável ao longo do tempo, que se irá refletindo no peso, e se tornará um hábito para a vida! Esta é a génese dos hábitos alimentares.
Considerações finais:
- A mudança exige tempo!
- Não “entre a matar”, nem seja demasiado ambicioso, pois os objetivos irrealistas tendem a fazer-nos desistir por serem inalcançáveis.
- Se está a pensar perder peso, saiba que esse não é o objetivo! É apenas a consequência da mudança do seu comportamento ao longo do tempo. E só o tempo fará o hábito.
- Sem hábitos jamais terá sucesso a longo prazo.
Lembre-se: alimentação saudável é para vida!
Seja paciente com o seu corpo, a ansiedade só irá retardar os resultados. Nem sempre terá o seu comportamento refletido no peso, mas a longo prazo valerá a pena.
Mude os seus hábitos alimentares pela sua saúde, pela sua vida.
NOTA: este artigo não tem em conta o processo de manutenção a longo prazo, mas apenas os processos físicos e motivacionais durante a fase de perda de peso.
Catarina Cachão Bragadeste, nutricionista 0402N
Diretora do Blog Diário de uma Dietista
www.diariodeumadietista.com