A pandemia que se instalou, nos últimos meses, apresenta um grande desafio, não só à saúde pública, mas também à economia familiar. Houve perdas de rendimentos e despesas a cortar. Mas também houve redução de custos, em algumas áreas. Em tempo de “desconfinamento” gradual, faz todo o sentido avaliar que ajustes serão necessários, para que a economia da família se mantenha o mais saudável possível.
Aqui ficam algumas dicas para ajudar a rever e adaptar o orçamento familiar aos novos tempos.
Primeiro ato: Grandes despesas fixas
Comece pelas grandes despesas do seu orçamento: renda ou empréstimo à habitação, prestações de automóveis e propinas. Muitas vezes, não é fácil alterar estes valores, uma vez que podem implicar grandes mudanças de vida.
Renda ou prestação da casa
É dificilmente alterável, mas não é impossível. Há empresas que ajudam a rever o seu crédito à habitação e encontrar melhores soluções que, a longo prazo, poupam muito dinheiro. Atenção às moratórias, que apenas adiam o inevitável pagamento das prestações. Pondere muito bem se isso faz sentido e se consegue, durante esse tempo, poupar o suficiente para retomar as prestações sem sobressaltos, quando tal lhe for exigido.
Quanto ao arrendamento, esteja atento aos preços das casas, sobretudo as que têm a mesma localização e características que a sua. Use essa informação para renegociar a sua renda junto do senhorio, se for possível
Automóveis
Dependendo do grau de alteração do seu contexto laboral pode, por exemplo, reconsiderar o número de automóveis de que a família dispõe. Num contexto em que um, ou mais, membros da família possam andar ou usar um transporte alternativo – como os transportes públicos, uma mota ou uma bicicleta – pode fazer sentido esse ajuste.
Propinas
As propinas têm que ser revistas com calma, para entender as vantagens e as desvantagens. Se tem filhos no ensino privado, tente renegociar as condições de pagamento e os valores. Se não for possível, existem por vezes bolsas de apoio, que podem estar disponíveis para famílias que perderam muitas receitas.
Se tem filhos na universidade, para além de existirem bolsas de estudo, também pode propor-lhes que ajudem a contribuir para o orçamento familiar, através de pequenos trabalhos pagos e que podem ser feitos online, como explicações ou “baby-sitting”.
Receitas
Do outro lado da moeda, estão as receitas. Se a sua receita fixa baixou, procure rentabilizar outros talentos, ou qualificações que tenha, num segundo trabalho. Onde seja pago por tarefa ou possa fazer o seu horário sem interferir com a ocupação principal. Muitos livros, projetos e carreiras nasceram assim. Não só cultiva outra área do seu interesse, como pode contribuir com um aumento da receita da família.
Segundo ato: Alimentação
Combater o desperdício!
Esta é talvez a maior despesa variável de um orçamento familiar. Aqui a ordem é combater o desperdício. A quarentena levou muitas famílias a cozinharem mais em casa, hábito que deve prevalecer. As refeições caseiras são, em geral, mais saudáveis e muito mais baratas. Não se esqueça que encomendar comida é equivalente a ir a um restaurante e, estando em casa, é muito fácil exceder a conta.
Deve tentar manter uma boa gestão do frigorífico e da despensa, com rotatividade dos alimentos para que nada “morra de velho”. O combate ao desperdício completa-se na arte da transformação de sobras. Há autores de blogues e páginas das redes sociais que são autênticos mestres. Pesquise um pouco e divirta-se, enquanto aumenta o rendimento da sua comida e diminui a conta mensal.
Conheça, por exemplo, as sugestões da rubrica infantil sobre alimentação e um artigo sobre desperdício Alimentar – da teoria à prática.
Ajustar os hábitos alimentares
Esta pode também ser uma oportunidade para dar a volta à alimentação, procurando comer mais à base de vegetais, substituir os snacks industriais por fruta ou snacks caseiros, usar mais leguminosas e reduzir na carne e no peixe.
Terceiro ato: Despesas de estilo de vida
Estas despesas, quando vistas isoladamente, parecem pequenas. No entanto, todas somadas podem atingir proporções gigantes e fazer muita diferença nas contas. Além disso aparentam ser necessidades quando, na realidade, a maioria é um investimento no conforto, na imagem ou no entretenimento.
Exercício sim! Mas ao ar livre
Se tinha uma subscrição mensal, num ginásio ou num estúdio, reveja em que formato fez exercício durante os tempos de confinamento, e se fará sentido manter esse formato. Se usava o ginásio para correr, mas tomou o gosto por correr lá fora, porque não continuar? Muitos estúdios vão continuar a oferecer aulas online e vídeos de exercício grátis ou a preço reduzido. Além de retirarem o fator preguiça de sair de casa, são mais em conta.
Os 2r’s: reduzir e renegociar
Outro setor que deve ser revisto é o do entretenimento. Será importante manter a televisão por cabo, serviços de streaming de música e televisão, bem como outras subscrições, que quase nem dá conta que paga todos os meses?
Faça escolhas e escolha as soluções mais versáteis, ou minimalistas, que realmente se ajustem ao partido que a família tira destes serviços. Também pode renegociar com as empresas fornecedoras um contrato mais adequado.
Regressar às bibliotecas e ler online
Os livros, e outros conteúdos didáticos, podem ser obtidos em bibliotecas e até online. Explore a que tem na sua área de residência e surpreenda-se com a quantidade de recursos que apresenta a um preço irrisório de sócio, ou mesmo gratuitamente.
Rotinas de beleza simplificadas
A cosmética é outro sector em que se gasta mais do que se pensa. O que mudou para si esta quarentena? Ainda faz sentido pintar o cabelo? A pele até ficou melhor, depois de passar uns tempos sem maquilhagem?
Reveja a sua rotina de beleza e veja o que poderá estar a mais, bem como o que pode ser substituído por uma versão menos dispendiosa. Tal como nos produtos de limpeza, um ou dois produtos podem fazer todo o trabalho de forma igual e definitivamente mais simples e barata.
Gerir a casa de forma mais funcional
Outra vertente que pede reavaliação é a ajuda nas tarefas domésticas. Quão exequível foi para a família manter a casa arrumada e limpa? Talvez seja razoável reduzir o horário de quem vem de fora ajudar nas tarefas domésticas. Ou passar essa atividade para outros moldes, como por exemplo, uma grande limpeza mensal ou trimestral, que dura dois ou três dias e põe a casa em ordem, deixando a gestão diária para a família.
Vá para fora cá dentro?
Por fim, as férias este ano terão que ser repensadas. Há limitações quanto a deslocações, alguns cuidados a ter na escolha do destino e, naturalmente, uma redução no orçamento. Pondere visitar amigos, reunir-se com a família alargada ou ficar pela sua zona, optando por atividades tendencialmente gratuitas para todos. Há quanto tempo não faz turismo na sua cidade?
É certo que nem todos serão afetados pelas circunstâncias da mesma forma, e que o esforço para algumas famílias será maior e para outras, menor. Para alguns serão tempos de dificuldades mais sérias ou de grandes mudanças. Procure ajuda, se vir que a sua situação é incomportável, ou não conseguir chegar a uma solução. E seja solidário com quem se debate com problemas nesta fase.
É importante que o orçamento familiar acompanhe as mudanças, com uma boa gestão e o contributo de todos. Esperemos que este aperto seja passageiro, mas que no meio dos desafios traga algo de bom, como olhar para trás e perceber as boas mudanças que implementou, e como estas permitiram a toda a família viver com menos desperdício, mais criatividade e resgatando valores antigos, que se fortalecem quando o acessório deixa de ser principal.
Teresa Fernandes, Fisioterapeuta
Instrutora de Yoga Suspenso, Gyrotonic e Gyrokinesis (aplicação na perda de mobilidade, prevenção de problemas músculo-esqueléticos, pré e pós-parto)