É quase consensual. Ser massajado é uma excelente sensação para a maioria das pessoas. Pode ser pensada como uma forma sistematizada de algo instintivo para o ser humano: o toque. Trata-se de uma terapia manual e, como tal, implica o toque terapêutico. Pode ser feita através de objetos mediadores – como as conhecidas massagens de pedras quentes ou taças tibetanas. Mas, regra geral, é feita com as mãos por um terapeuta.
A massagem é muito antiga entre os humanos, e tornou-se ao longo de séculos um grande guarda-chuva que alberga muitas origens, técnicas e princípios. Muitas profissões a utilizam. É frequentemente vista como uma mistura intrigante entre arte e ciência. Por norma, um bom terapeuta domina ambas. Combina um bom conhecimento de anatomia, fisiologia, neurologia, entre outros, com o que se costuma definir como “boa mão”. Ou seja, a sensibilidade para tocar, com a pressão e ritmo certos, interpretar os tecidos corporais que manipula e as respetivas reações, sentir mudanças debaixo dos dedos e adaptar constantemente o toque ao longo do processo.
Mas além do potencial prazer no processo, a massagem apresenta benefícios reais, tanto a nível físico como emocional.
Estes são mediados por vários mecanismos, dos quais se salientam os mais simples.
O aumento da temperatura local
Pelo contacto com as mãos, e o movimento que estas fazem sobre a pele, e indiretamente, em outras estruturas do corpo. Este aumento de temperatura, em combinação com o aumento de aporte sanguíneo local que lhe é inevitavelmente associado, desencadeia vários efeitos fisiológicos.
A ação mecânica sobre os vários tecidos e estruturas
Pele, tecido adiposo, músculos, fáscias, tendões, ligamentos, vasos sanguíneos e linfáticos, nervos periféricos, articulações – que, numa mistura complexa de fisiologia neurológica e muscular, interferem com algumas das suas propriedades, tornando-os tipicamente mais maleáveis, irrigados, permeáveis e móveis, deslizando uns sobre os outros com maior liberdade.
A oxitocina, uma hormona associada ao toque, também conhecida como a hormona dos afetos
É produzida em resposta a vários estímulos, entre eles o toque, e proporciona uma sensação de bem-estar, de ligação a outro ser humano. Tem efeitos físicos, mas também ajuda a mediar muitos dos efeitos psicológicos atribuídos ao toque e à massagem.
Benefícios físicos
A massagem ajuda a reduzir a dor, pela irrigação sanguínea – que proporciona nutrição e remoção de detritos celulares – pela mediação neurológica da dor através do toque e pela interferência direta nos tecidos que a originam, reduzindo a sua tensão mecânica e aumentando a liberdade de movimento.
Pelos mesmos motivos, pode ajudar na correção postural e na redução dos efeitos de posturas mantidas ou gestos repetidos, quer se seja um atleta ou se trabalhe horas à secretária. A manipulação dos tecidos ajuda à regulação do tónus muscular, estimulando músculos “adormecidos” e relaxando músculos cansados e com demasiado trabalho.
A combinação do toque, da oxitocina e da redução da dor ajudam a reduzir o ritmo cardíaco e a regular a tensão arterial. Apesar de físicos, estes fenómenos são um dos principais pontos de expansão dos efeitos da massagem.
Benefícios emocionais
A regulação do batimento cardíaco e da tensão arterial, em conjunto com o efeito da oxitocina, ajudam a mediar muitos dos efeitos mentais e emocionais da massagem. Tal como muitos sintomas e fenómenos mentais ou emocionais se manifestam fisicamente – dimensão psicossomática – é possível ajudar a regular estes problemas fazendo o caminho inverso, ou seja, agindo sobre os seus efeitos físicos.
Quando existe ansiedade ou preocupação, por exemplo, o corpo responde, entrando num estado de alerta: tensão muscular, aumento dos ritmos cardíaco e respiratório, alterações na irrigação sanguínea, na secreção hormonal e de neurotransmissores. O organismo prepara-se para reagir a qualquer momento.
O abrandamento dos vários ritmos do corpo – respiratório, cardíaco – inverte em parte este estado de alerta, ajudando a reduzir a ansiedade que lhe está associada.
O mesmo efeito físico, associado à libertação de oxitocina, pode ser uma ajuda em estados depressivos, pelos efeitos benéficos que a produção da hormona desencadeia. É um efeito que pode ser descrito como reconfortante, como uma sensação de amparo que vem da reação inata ao toque de um ser humano. Há certos instintos que podem servir de exemplo para este efeito, tal como o de tocar ou abraçar alguém que chora, ou se sente triste.
Nos tempos de hoje, em que o contacto humano diário se baseia cada vez mais em comunicações verbais ou à distância, e o toque vai perdendo o seu papel nas interações sociais, fazer uma massagem é como voltar às origens. Se, e quando, puder, mime-se com um desses momentos. O corpo agradece, e a mente também.
Teresa Fernandes, Fisioterapeuta
Instrutora de Yoga Suspenso, Gyrotonic e Gyrokinesis (aplicação na perda de mobilidade, prevenção de problemas músculo-esqueléticos, pré e pós-parto)

Teresa Fernandes, Fisioterapeuta
Instrutora de Yoga Suspenso, Gyrotonic e Gyrokinesis (aplicação na perda de mobilidade, prevenção de problemas músculo-esqueléticos, pré e pós-parto)